CF 2025 propõe conversão para superar as consequências do egoísmo e do consumismo

A temática ambiental é urgente e estamos numa época decisiva para o planeta. É nesse contexto grave que a Campanha da Fraternidade (CF) 2025 afirma a necessidade de conversão para que as atitudes individuais e coletivas não gerem um “colapso planetário”. Para superar o egoísmo e o consumismo e outras atitudes prejudiciais à criação, é proposto o conceito da Ecologia Integral, que diz respeito ao cuidado com a natureza e com as relações que temos com as pessoas e o meio no qual estamos inseridos.
A Ecologia Integral
O texto-base da CF 2025 ensina que a Ecologia Integral não diz respeito somente à preservação do verde, mas “de tudo que nos leva a uma vida de comunhão, respeito e colaboração entre as pessoas e o mundo criado, no campo e na cidade”.
Há também uma dimensão espiritual da Ecologia Integral: “Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas”, lê-se no número 12 do texto. É por isso que é proposto o lema “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1, 31).
Conversão
Como tempo de conversão, a Quaresma é oportunidade para rever e reestabelecer as relações quebradas e “intensificar o empenho no seguimento de Jesus, a relação fraterna com as pessoas e com o mundo a nossa volta”.
A CF 2025 ensina que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: com Deus, entre os seres humanos e com a Terra. A conversão, assim, é o caminho para “para restabelecer a harmonia quebrada e continuamente ameaçada”. A proposta da Igreja é “superar a indiferença frente ao sofrimento da Terra e abandonar a idolatria dos desejos desordenados do consumismo e do materialismo”.
Consumismo e do egoísmo
Na encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum, o Papa Francisco alerta para do “mecanismo consumista compulsivo” criado pelo mercado para a venda de seus produtos. Com essa artimanha, “as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos”.
Soma-se a isso o “egoísmo coletivo”, favorecido pelo “sentido de precariedade e insegurança do mundo atual. “Quando as pessoas se tornam autorreferenciais e se isolam na própria consciência, aumentam a sua voracidade: quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir”, afirma o Papa Francisco.
Nesse contexto de consumismo e egoísmo, como reflete o Papa, “parece não ser possível, para uma pessoa, aceitar que a realidade lhe assinale limites; neste horizonte, não existe sequer um verdadeiro bem comum”. Isso está relacionado, então, à possibilidade de “terríveis fenômenos climáticos ou de grandes desastres naturais, mas também nas catástrofes resultantes de crises sociais, porque a obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca”.
Superação
Diante dessa realidade de degradação, o mesmo Papa Francisco vê com esperança a possibilidade de a humanidade também se superar e “voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto”.
“Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar”, motiva o Papa Francisco na Laudato Si’.
O convite é à mudança nos estilos de vida. Retornando à exortação apostólica Evangelii Gaudium, encontramos a motivação para construir “relações novas geradas por Jesus Cristo”. A proposta é “sair de si mesmo para se unir aos outros”, pois “fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da imanência, e a humanidade perderá com cada opção egoísta que fizermos”.
Na Laudato Si’, o Papa retoma e motiva o desenvolvimento da capacidade de sair de si mesmo rumo ao outro: “Sem tal capacidade, não se reconhece às outras criaturas o seu valor, não se sente interesse em cuidar de algo para os outros, não se consegue impor limites para evitar o sofrimento ou a degradação do que nos rodeia”.
“Quando somos capazes de superar o individualismo, pode-se realmente desenvolver um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade”, escreveu o Papa.
Ações pessoais
Essa superação leva às pequenas ações pessoais que geram mudanças culturais: “o simples fato de mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários alimenta a preocupação e a indignação contra o desinteresse dos poderosos”, afirma o Papa na encíclica Laudate Deum.
É com essa motivação que a Campanha da Fraternidade 2025 propõe atitudes e iniciativas concretas nos âmbitos pessoal, comunitário e sociopolítico para realizar a Ecologia Integral a partir da nossa conversão ecológica.
No âmbito pessoal, a motivação é incrementar processos contínuos de conversão ecológica, reconhecendo-a como uma caminhada desafiadora, porém essencial. A CF também sugere incluir nas atividades e ações pessoais a oração e a contemplação, “permitindo-se experienciar momentos de reflexão sobre nossa relação com Deus, com os outros e toda a criação”.