Papa Francisco: O profeta da alegria do Evangelho
Na noite da segunda-feira, 21 de abril, a Catedral Sagrada Família, em Campo Limpo, tornou-se um refúgio de silêncio, algumas lágrimas e orações. A notícia do falecimento do Papa Francisco, nas primeiras horas daquele dia, comoveu o mundo e ressoou de forma intensa em toda a Diocese. Convocada de maneira espontânea e urgente por Dom Valdir José de Castro, bispo diocesano, a missa em sufrágio reuniu em torno do altar centenas de fiéis e dezenas de padres, num gesto que foi mais que litúrgico: foi uma homenagem viva ao pontífice que evangelizou com alegria.

Com voz embargada, Dom Valdir abriu a celebração agradecendo a presença expressiva do povo, dos padres e do bispo emérito, Dom Luiz Antônio Guedes: “Isso mostra o quanto o Papa alcançou seu principal objetivo, de evangelizar com alegria e de ser acolhedor”. E foi exatamente essa alegria, nascida da fé, que guiou a homilia do bispo diocesano, profundamente inspirada no Evangelho, do dia, segunda da oitava da Páscoa e no legado espiritual de Francisco.
“O Ressuscitado diz: ‘Alegrai-vos’ – e essa alegria nasce do encontro com Jesus”, afirmou Dom Valdir. “O Papa Francisco fez dessa alegria o seu programa de pontificado: evangelizou com alegria, como escreveu em sua primeira exortação apostólica, Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho, publicada apenas oito meses após sua eleição. O Papa anunciou a alegria do Evangelho não só com palavras, mas com o testemunho de vida.” Para o bispo, crer no Ressuscitado não é apenas pensar, mas sentir – e o Papa soube sentir e transmitir essa alegria até o fim.
Durante a reflexão, Dom Valdir lembrou que Francisco foi um homem que viveu com pressa, como as mulheres do Evangelho que mesmo temerosas se apressaram porque acreditaram: “ele não tirava férias, não se poupava, tinha pressa no anuncio da Boa Nova. Até o último dia, mesmo fragilizado pela doença, quis estar entre o povo.” O gesto do Papa no domingo de Páscoa, ao passar mais uma vez entre os fiéis na Praça de São Pedro, foi interpretado por Dom Valdir com ternura: “ele queria ir para o Paraíso com o cheiro das ovelhas”.
O pontificado de Francisco foi marcado por seu olhar misericordioso sobre os mais pobres, os migrantes, os doentes e a Casa Comum. Inspirado por São Francisco de Assis, cujo nome escolheu como bandeira, não hesitou em unir cuidado com o meio ambiente e atenção aos que vivem à margem. “Quando o meio ambiente é destruído, quem sofre primeiro são os pobres”, destacou Dom Valdir, citando uma das muitas preocupações que definiram o magistério do Papa.
Ao falar sobre sua humanidade, o bispo também fez um alerta: “não confundamos humanidade com mundanidade. Papa Francisco foi profundamente humano – alguém que sentia, que se comovia, que acolhia. Foi um profeta.” E como tal, nem sempre compreendido, mas inegavelmente amado.

Um adeus diferente: os ritos de despedida
Com a morte de Francisco, a Igreja inicia um luto que se expressa também em ritos novos, moldados pelas próprias escolhas do pontífice. O corpo não passará pelo Palácio Apostólico, mas será levado diretamente à Basílica de São Pedro, onde será velado sobre o chão, em um caixão simples – longe dos esquifes elevados de outrora. A simplicidade, marca de toda sua vida, acompanhará também sua morte.
Em gesto inédito neste século, ele decidiu não ser sepultado na Basílica de São Pedro, como seus predecessores, mas sim na Basílica de Santa Maria Maior, onde tantas vezes rezou antes e depois de suas viagens. No sábado, 26 de abril, às 10h (horário local), após o funeral, a Igreja iniciará os novendiales, período de nove dias de orações pela sua alma.
Ao final da celebração, o silêncio da Catedral foi interrompido por orações diante de um retrato do pontífice que sorri e acena. Os rostos, marcados pela saudade, também traziam uma luz de esperança: a certeza de que Francisco, o Papa do sorriso, da ternura e do Evangelho vivido, agora intercede por nós junto de Deus.