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Papa Francisco

Papa: O coração da Fiducia Supplicans é a acolhida, não se nega a bênção a ninguém

Em uma entrevista à revista italiana Credere, que será publicada amanhã, 08/02, Francisco volta a abordar a questão das bênçãos a casais homossexuais.
 |  Andrea Rodrigues  |  Papa Francisco
Foto: Vatican Media

"Todos, todos, todos". O Papa disse isso em Lisboa e repetiu em várias outras ocasiões para reafirmar o princípio de acolhimento que fundamenta a missão pastoral da Igreja e enquadrar também as bênçãos a casais "irregulares", incluindo os homossexuais, conforme proposto pelo documento doutrinal Fiducia Supplicans. Também na revista Credere, publicada pelo Grupo San Paolo à qual concedeu uma entrevista que será publicada no dia 8 de fevereiro, Francisco volta à questão das bênçãos - que geraram diversas reações e polêmicas - e repete o que já havia mencionado durante uma audiência ao Dicastério para a Doutrina da Fé que elaborou a declaração: "Eu não abençoo um 'casamento homossexual', abençoo duas pessoas que se amam e também peço que rezem por mim", explica o Pontífice na conversa com o diretor, padre Vincenzo Vitale. "Sempre nas confissões, quando essas situações surgem, pessoas homossexuais, pessoas divorciadas, eu sempre rezo e abençoo. A bênção não deve ser negada a ninguém. Todos, todos, todos. Atenção, estou falando de pessoas: de quem é capaz de receber o Batismo".

"Os pecados mais graves - acrescenta o Papa - são aqueles que se disfarçam com uma aparência mais 'angelical'. Ninguém se escandaliza se eu abençoo um empresário que talvez explore as pessoas: e isso é um pecado muito grave. Enquanto se escandaliza se eu abençoo um homossexual... Isso é hipocrisia! Devemos respeitar a todos. Todos! O cerne do documento é a acolhida".

Os Movimentos eclesiais são bons quando estão inseridos na Igreja 

Na entrevista à revista semanal, que celebra os dez anos de sua fundação, justamente por ocasião da eleição de Jorge Mario Bergoglio em 2013, o Papa relembra os anos de seu pontificado entre confidências pessoais, como seus diálogos com os idosos ou as memórias de Buenos Aires, e temas da atualidade, incluindo o Jubileu, um "evento de graça" no qual é necessário "redescobrir o valor e a necessidade da oração".

Francisco também fala sobre os movimentos eclesiais e o envolvimento dos jovens em experiências pastorais, como aquelas em países do Terceiro Mundo ou latino-americanos, onde as pessoas são abordadas com uma linguagem "simples". "Há também realidades 'sofisticadas', que não alcançam, são movimentos um pouco 'exóticos'", diz Francisco, ou seja, "refinados". Esses grupos, afirma, "tendem a formar uma 'igrejinha', de pessoas que se sentem superiores. Isso não é o santo povo fiel de Deus. O povo de Deus é composto por fiéis que sabem que são pecadores e seguem em frente. Não tenho nada contra os movimentos, que fazem muito bem". "O movimento - explica o Pontífice - é bom quando te insere na Igreja real, mas se são seletivos, se te separam da Igreja, se te levam a pensar que você é um cristão especial, isso não é cristão".

O importante é a presença das mulheres, não a ministerialidade

A resposta do Papa sobre o papel das mulheres é clara, à luz dos contínuos apelos para devolver um "rosto feminino" à Igreja ou, o mais recente, para "desmasculinizar" a Igreja. Francisco reitera a diferença entre o princípio petrino e o princípio mariano: "A Igreja é mulher, é esposa. Pedro não é mulher, não é esposa. É mais importante a Igreja-esposa do que Pedro-ministro!". O Santo Padre então acrescenta que "abrir o trabalho na Cúria às mulheres é importante", destacando como as mulheres "auxiliam no ministério". Basta olhar para as pequenas cidades onde não há padre e as freiras conduzem paróquias, batizam, dão a Comunhão, realizam funerais. "Não é a ministerialidade da mulher o mais importante, mas a presença das mulheres é fundamental", conclui o Papa.

Novas futuras nomeações na Cúria Romana

E olhando para a Cúria Romana, onde ao longo dos anos várias nomeações femininas têm ocorrido, ele afirma: "Agora há várias mulheres e haverá mais, porque elas se saem melhor do que nós homens em certos cargos". Papa Francisco cita a secretária do Governatorato, irmã Raffaella Petrini, "as mulheres presentes no Dicastério para eleger os bispos" (a própria Petrini, além de Ir. Yvonne Reungoat, ex-superiora geral das salesianas, e Maria Lía Zervino, presidente da Umofc), irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, entre outras: "São todos cargos que precisam de mulheres".

Por fim, quando questionado se tem consciência de que iniciou "uma mudança histórica" a partir desse ponto de vista, o Papa respondeu: " Na verdade, não! No entanto me dizem isso .... Eu vou em frente como posso".