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Agnes será uma das primeiras negras a se formar em engenharia na USP

Frequentadora de uma das comunidades da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Capão Redondo) desde sua infância, Agnes Brasil é uma típica garota da região sul, periferia afastada do centro de São Paulo.

 |  Lia Macedo  |  Paróquias
Imagem: CEC Poli USP / Youtube

Frequentadora de uma das comunidades da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Capão Redondo) desde sua infância, Agnes Brasil é uma típica garota da região sul, periferia afastada do centro de São Paulo.

Negra com orgulho, ostenta uma volumosa cabeleira cacheada e um senso de cidadania exemplar para uma garota de 21 anos.  Estudante de engenharia civil  na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Agnes será a primeira negra a ser formada como engenheira civil nesta universidade desde sua implantação.

No início deste ano, ela vivenciou uma inusitada fama ao participar de um projeto do  centro acadêmico de  sua faculdade que propôs que ela mais algumas garotas protagonizassem um  vídeo que evidenciasse as dificuldades que as mulheres estudantes da Poli passam todos os dias neste instituto. O vídeo virou um sucesso na internet e, com isso o grupo de garotas deu várias entrevistas para diversos canais de comunicação.  Este boletim convidou a sua paroquiana para discutir, sob um olhar cristão, como foi esta experiência.

“Fomos convidadas a participar de uma espécie de gincana estudantil onde deveríamos  ficar encarar o espectador com frases escritas com batom preto que poderíamos apagar ou manter, de acordo com o  nosso critério.” Segundo ela, o grupo jamais imaginou que aquele vídeo pudesse ganhar tanta repercussão: “Subimos o vídeo para o YouTube e no dia seguinte tínhamos  quarenta mil visualizações. Foi um susto!

No vídeo, as garotas enfrentam a câmera som da música Survivor (Sobrevivente) do grupo norte americano Destiny’s Child com a performance de Clarice Falcão.  Todas escreveram palavras que representavam algum constrangimento, preconceito ou injustiça. “Estávamos ali em busca de uma conscientização sobre a igualdade e justiça social para todos, mesmo que dentro da filosofia feminista existam tópicos que eu não aceite, porque sou cristã. Mas também por ser cristã não posso ficar feliz com a injustiça que se pratica apenas por sermos mulheres. E de fato, eu dentro da USP, já sofri injustiças.”

Sobre as repercussões negativas, Agnes é muito tranquila: “Recebemos todo o tipo de elogios mas, também estamos cientes que incomodamos a muitas pessoas. Ouvimos todo o tipo de critica desde que nós estávamos com  tempo de sobra e que devíamos estudar mais até pessoas que questionavam nossa integridade moral por estarmos naquele vídeo. Acredito que atingimos o objetivo de, pelo menos, incomodar estas pessoas. Porque antes, elas sequer ouviam nossa voz. Sequer sabiam de nossa existência e, tão pouco sabiam que este tipo de coisa acontecia dentro do campus da USP. Nós, então, ignoramos estas críticas pois elas não ajudam em nada a mudar o cenário que nós vivemos.”

Dentro da escola de  engenharia a estudante afirma que muita coisa já mudou:  “somos encaradas com mais respeito pelos nossos colegas. Acredito que não vamos mudar tudo apenas porque fizemos um vídeo, mas, pudemos colocar uma sementinha de esperança de um futuro melhor, mais igual  e justo na cabeça das pessoas. E isso me alegra, e muito!”