Monsenhor Lucio Ruiz: Evangelização digital e ética no uso da Inteligência Artificial
7 Nov 2024
Monsenhor Lucio Ruiz
Monsenhor Lucio Ruiz, Secretário do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, esteve no Brasil em julho para o 8º Encontro Nacional da Pascom, na cidade de Aparecida. Em seu discurso, destacou o desejo dos comunicadores católicos de levar ao mundo uma mensagem de transformação, transmitindo o Evangelho de Cristo Ressuscitado por meio da comunicação.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Diocese em Ação, Monsenhor Lucio conversou sobre a evangelização no ambiente digital e os desafios que a inteligência artificial impõe à Igreja.
Um espaço para ser missionário
Para Monsenhor Lucio, o ambiente digital é um lugar propício para a missão. Durante o Sínodo Digital, promovido por ele, esse tema despertou interesse em diversas partes do mundo e em todos os níveis da Igreja, o que trouxe, segundo ele, “a esperança de que um novo capítulo possa ser aberto para o que significa e sempre significou a missão na Igreja”.
O papel dos missionários digitais
Diocese em Ação: Monsenhor, qual é a sua expectativa em relação aos missionários digitais e o Sínodo?
Monsenhor Lucio: A ideia dos evangelizadores digitais realmente ganhou força com o sínodo. Quando o Papa Francisco convidou a Igreja a se colocar em escuta, muitos missionários digitais de várias partes do mundo sentiram o desejo de responder a esse chamado. Eles se dispuseram a ouvir as vozes de quem está fora das instituições eclesiais, da Igreja em si, pessoas que estão longe, mas que precisam ser alcançadas.
Eles vieram com essa proposta, de lugares tão diversos quanto Filipinas, Europa, América e África, todos desejando fazer parte dessa resposta. Acredito que o conceito de missionários digitais já existia, mas o Sínodo trouxe visibilidade a eles. Hoje, a Igreja reconhece essa realidade e a importância desses missionários, que amam e estão comprometidos com essa missão.
O Sínodo revelou o grande movimento dos missionários digitais e o apresentou à Igreja, convidando-a, especialmente os bispos, a acolher essa nova página missionária. Esse reconhecimento é um dos frutos mais bonitos do Sínodo. A integridade do Evangelho sempre foi um desafio na missão, desde o envio dos primeiros apóstolos por Jesus, quando lhes disse: “Ide!”. Ele os preparou, os ensinou, os amou e, então, os enviou com confiança, sabendo que o Espírito Santo os guiaria.
Como Igreja, precisamos fazer o mesmo. Agora que descobrimos esse novo campo de missão, é nosso papel acolher, formar, acompanhar e estar próximos desses missionários digitais. E, então, confiar no Espírito Santo, como a Igreja sempre fez.
Inteligência artificial e os desafios para a Igreja
Diocese em Ação: O Papa Francisco tem manifestado interesse e preocupação com a inteligência artificial. Quais são os principais desafios que essa tecnologia traz para a Igreja e para a humanidade?
Monsenhor Lucio: O grande desafio da inteligência artificial é que ela sempre se mantenha a serviço do ser humano. Ela é uma criação nossa, e é essencial que continue a ser uma ferramenta de apoio, que contribua para a humanização da realidade. Como todas as obras feitas pelo homem, a inteligência artificial pode trazer muitos benefícios, mas é fundamental que esteja ancorada não apenas em princípios morais, mas também em uma base antropológica.
Essa tecnologia deve sempre visar o bem do ser humano. Deus nos deu a inteligência para criarmos uma realidade que ajude a viver com dignidade e humanidade, e, a partir disso, para que possamos também levar adiante a Palavra de Deus.