Jubileu da Ecologia Integral abraça a Guarapiranga unindo fé e cuidado com a Casa Comum
A Diocese de Campo Limpo celebrou no sábado, 31 de maio, o Jubileu da Pastoral da Ecologia Integral, integrando sua programação à 19ª edição do tradicional Abraço à Guarapiranga, realizado no Parque Ecológico Guarapiranga, zona sul da capital paulista. O evento, marcado por espiritualidade, conscientização e mobilização popular, reuniu cerca de 1.200 pessoas, entre fiéis, agentes de pastoral, representantes de movimentos sociais, ONGs e lideranças civis.
As nove da manhã, fiéis de diversas paróquias começaram a chegar ao estacionamento do parque, onde foi realizada a concentração inicial. Padre José Wilson, da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, conduziu o momento com orientações e animação. Em seguida, o vigário forâneo da região M’Boi Mirim, padre Wallace Adorno, declamou um poema de autoria do padre Darci Bortolini, assessor diocesano da Pastoral da Ecologia Integral, que não pode estar presente porque no mesmo dia receberia uma homenagem pelo seu trabalho de evangelização no sul do país. A poesia exaltava a importância da represa como fonte de vida e resistência, destacando sua generosidade mesmo diante da degradação causada pela ação humana.

A celebração da Santa Missa, presidida por dom Valdir José de Castro, bispo diocesano, teve início com o Roteiro da Peregrinação Diocesana e a leitura da Carta de São Paulo aos Romanos, lembrando a todos que "a esperança não decepciona". Em clima de oração e canto, os participantes caminharam saindo do estacionamento e adentrando ao parque em direção ao altar montado para a celebração, entoando salmos e canções com alegria e fé. Participaram concelebrando diversos padres da forania M’Boi Mirim e um da forania Morumbi.
Em sua homilia, dom Valdir reforçou o sentido do Jubileu como um tempo de gratidão a Deus pela criação, destacando a espiritualidade ecológica proposta pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’. "A beleza da criação é responsabilidade de todos nós", afirmou. “Celebramos este Jubileu para agradecer pelas maravilhas que Deus opera em nossa vida e na natureza.” Ao meditar sobre a Festa da Visitação de Nossa Senhora, o bispo destacou o exemplo de Maria como aquela que desperta a “cultura do encontro”, nos ensinando a cuidar uns dos outros e do planeta: “Maria é bendita porque percebe Deus ao lado dos que sofrem. O cuidado com a criação está diretamente ligado à vida cristã.”

Dom Valdir também recordou que, segundo a fé cristã, toda a criação encontra sentido em Cristo: “Tudo foi criado por Ele e para Ele. Cuidar da natureza é cuidar da vida humana.” Encerrou sua homilia com um apelo: “Que esta Eucaristia nos anime na esperança de que é possível mudar o mundo e reverter a destruição ambiental.”
Ao final da missa, crianças de diversas paróquias coroaram a imagem de Nossa Senhora, emocionando os presentes.
Terminada a Santa Missa todos participaram do simbólico "abraço" à represa Guarapiranga, conduzido por Regina Paixão, da Paróquia Nossa Senhora da Esperança e participante desde a primeira edição do Abraço à Guarapiranga. Representantes de movimentos sociais, ONGs e lideranças civis tiveram um espaço de fala neste momento, antes do abraço.

O evento também foi espaço de denúncia profética. Uma carta-manifesto foi lida denunciando os riscos do Projeto de Lei 2.159/2021, que propõe alterações na Lei Geral do Licenciamento Ambiental, aprovado recentemente pelo Senado Federal. O texto agora segue para análise da Câmara dos Deputados.
A manhã terminou com uma apresentação cultural do Núcleo de Convivência do Idoso da Paróquia Maria Mãe da Igreja e o plantio simbólico de uma árvore, no canteiro central da Estrada do Riviera, em frente ao parque, pelo bispo diocesano, monsenhor Luís Carlos Parede e outros participantes, reforçando o compromisso com a ecologia integral.
Confira abaixo a poesia composta pelo padre Darci Bortolini em homenagem a Represa Guarapiranga
Guarapiranga
Guarapiranga estavas na mente de Deus
quando criou a água, o início da vida.
Agora tua água está indo para milhões de lugares
porque tudo está interligado.
Depois de servir, vais para o curso de um rio.
Estamos te abraçando,
leva o mesmo abraço ao Rio Pinheiros,
ao Rio Tietê,
ao Rio Paraná,
Rio da Prata,
ao Oceano Atlântico
e também a todas as águas profundas,
de superfície
e as que vêm do céu.
Nos obstáculos, transbordarás
para seguir livremente teu curso.
Por onde passarás,
não farás conta da tua importância,
mas continuarás gerando vida.
Passando por campos, vilas e cidades
não discriminarás nenhuma criatura.
Todas precisam de ti, és fonte da Vida.
Perdoarás quando pecarmos contra ti,
jogando em teu seio o que não presta,
e seguindo lentamente teu curso,
te tornarás novamente cristalina.
Obrigado por recolher a água da lágrima de quem chora.
Obrigado por recolher a água da lagrima de quem tem uma profunda emoção.
Obrigado por se dispor
pra que tudo seja abençoado em nome da Trindade.
Obrigado por recolher a água do Coração aberto de Jesus
que se transforma em sacramento,
para sermos Filhos de Deus.
Obrigado por misturar-se à farinha e ao vinho
para ser Eucaristia
e no altar consagrado:
Corpo e Sangue de Cristo compartilhado.
Guarapiranga – Lobo vermelho
Guarapiranga – Pássaro vermelho.
Que possamos ter carinho por ti
como se fôssemos acarinhar a pelagem macia
e vermelha do lobo-guará.
A plumagem reluzente do pássaro guará,
nos faça ver o cuidado que devemos ter por ti.
No ciclo da vida as plantas morrem,
os animais morrem,
as pessoas morrem,
mas tu continuas a acolher
as gerações que se sucedem.
As plantas morrem,
os animais morrem,
as pessoas morrem,
mas há eventos que permanecem
na memória da natureza
e na história.
Guarapiranga, te abraçamos porque te amamos
Pe. Darci Bortolini