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Palavra do Pastor

Fome de Deus, fome de pão

O tempo da Quaresma é oportuno para avaliarmos com que intensidade vivemos o amor testemunhado por Jesus. A Campanha da Fraternidade 2023 denuncia a trágica realidade da fome presente no mundo e, em particular, no Brasil.
 |  Dom Valdir José de Castro  |  Diocese
Foto: Marcus Simi

Todos os anos a Quaresma nos oferece uma grande oportunidade para aprofundarmos o sentido de nossa vida cristã a partir da centralidade de nossa fé, isto é, à luz da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. São quarenta dias nos quais somos chamados a olhar mais fixamente para o Cristo crucificado-ressuscitado que, morrendo no Calvário, na doação total de sua vida a toda a humanidade, nos revela plenamente o amor de Deus. De fato, a vida entregue na Cruz é a marca da existência de quem amou até o fim (Cf. Jo 13,1).

O tempo da Quaresma é oportuno para avaliarmos com que intensidade vivemos o amor testemunhado por Jesus. Certamente, observando a sua radicalidade e avaliando o nosso comportamento, damo-nos conta de como estamos longe do exemplo do Mestre. Então, vemos que, para estarmos unidos a Jesus, aqui e na eternidade, não nos resta outro caminho, senão o da conversão. Conversão significa “mudar de direção”, isto é, passar de um estilo de vida, marcado pelo pecado que corrói a vida pessoal e social, para sermos, em Jesus, criaturas novas, no amor.

Nessa perspectiva, o tempo da Quaresma, antes de tudo, deve levar-nos ao encontro com Jesus, que nos ensina a amar, a perdoar e nos chama a libertar-nos do egoísmo, do individualismo e de tudo o que causa divisão. Do coração de Jesus, aprendemos a viver como irmãos e irmãs, a sermos ternos e sensíveis, principalmente em relação aos que sofrem e clamam por uma vida digna. É neste horizonte que podemos entender a Campanha da Fraternidade que, a cada ano, durante a Quaresma, aponta situações concretas de pecado a serem transformadas, no espírito de amor e de serviço.

A Campanha da Fraternidade deste ano denuncia a trágica realidade da fome presente no mundo e, em particular, no Brasil. É triste constatar que o nosso país, um dos maiores produtores de alimentos do mundo e de maioria cristã, tem uma parte da população que vive o drama da fome. O lema da Campanha da Fraternidade, que ressoa as palavras de Jesus a seus discípulos ”dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), convida-nos a olhar para esta realidade injusta, com os olhos d’Aquele que, segundo a passagem bíblica, não somente sentiu compaixão ao ver a multidão faminta, mas buscou solução.

O Papa Francisco, na sua mensagem por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade, afirmou que essa indicação dada por Jesus a seus apóstolos “é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos – do muito ou do pouco que temos – com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome”. E completa:  “Sabemos que indo ao encontro daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: ‘eu estava com fome, e me destes de comer... todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que fizestes” (Mt 25,35.40).

Sabemos que na Diocese de Campo Limpo já existem iniciativas com o objetivo de levar alimento às famílias carentes de nossas paróquias e comunidades, ações que aliviam situações que foram agravadas em consequência da pandemia. Que esta preocupação seja também das autoridades civis que têm a responsabilidade de criar políticas públicas que ajudem a acabar definitivamente com esse flagelo!

Que possamos, à luz do coração de Jesus e motivados pela Campanha da Fraternidade, crescer ainda mais na sensibilidade para com aqueles que clamam pela fome de pão, numa sociedade que tem fome de Deus. De fato, onde há fome de pão, há falta de amor, de compaixão e de justiça; há ausência do espírito de fraternidade e de solidariedade... há falta de Deus!  

Um frutuoso caminho quaresmal!

Dom Valdir José de Castro, ssp

Bispo Diocesano de Campo Limpo


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