Skip to main content

O Padre e os Partidos Políticos

Para nós católicos, o pecado da omissão sempre foi posto ao lado dos outros pecados graves, digno de ser confessado e reparado, na medida do possível.

Em relação a preferências políticas ou mesmo pelo fato de sermos premidos por injustiças sociais, nos sentimos responsáveis pelo destino da nação, assumindo posições e aderindo a ideologias partidárias, a fim de não pecarmos por omissão. Esse comportamento, no entanto, embora compreensível sob o ponto de vista social, não se sustenta e chega até a ser inaceitável para pessoas que se supõe pastores de um rebanho democraticamente diverso em seus posicionamentos políticos e não menos digno de atenção e sobretudo respeito por parte de seus pastores.

O que nos proíbe de tomar partido, em última análise, é a nossa própria origem. O Cristianismo, desde cedo, se caracteriza pelo amor universal, universalidade essa baseada no fato de que, filhos de um mesmo pai, somos todos irmãos. 

Atitudes políticas unilaterais, sejam elas de direita ou de esquerda podem conduzir a experiências desastrosas. Quando se faz uma opção por um lado, a tendência é rechaçar o contrário, e isso faz com que, naturalmente, as ideias acabem sendo impostas, de maneira violenta ou até mesmo sutil, e ambas as formas produzem sempre efeitos negativos na trama dos laços sociais. Nesse sentido, toda forma de apologética, seja ela religiosa ou política, é perigosa, pois cria ressentimentos e separações. Adorno e Horkheimer, em “Dialética do Esclarecimento” dizem que “quando a linguagem se torna apologética, ela já está corrompida”. Nesse mesmo texto, que parece tirado do evangelho, afirmam: “Será que você não pode mostrar o lado bom e proclamar como princípio o amor, ao invés da amargura infinita?”.

A palavra que falamos sempre pode intrigar, propalar, sugerir, segundo os dois pensadores, mas mesmo envolvidas na ação da realidade, também podem ser dirigidas no sentido da mentira e ao serviço da violência e do despotismo. O problema ainda, quando tomamos uma posição político-partidária é que a linguagem utilizada para isso só enxerga o que quer, e faz tudo para que as coisas pertençam ao seu meio. Nesse sentido, a linguagem usada como instrumento para este ou aquele lado, se identifica com a mentira. Adorno chega a dizer que esse tipo de linguagem se identifica mesmo com as trevas!

Nosso maior trunfo, como sacerdotes, é a palavra e, portanto, dela se deve cuidar para que não traga confusão e divisão. Sigmund Freud, em seu livro “A Psicologia das Massas e a Análise do Eu”, de 1921, afirmava que “A multidão se mostra muito acessível ao poder verdadeiramente mágico das palavras, as quais são suscetíveis tanto de provocar na alma coletiva as mais violentas tempestades como de apaziguá-las e fazê-las voltar à calma”.

Precisamos, sim, denunciar as injustiças, marca insofismável da sociedade brasileira, mas, para isso, temos que contar com o evangelho de Cristo, que nunca se equivoca e nem decepciona, como os partidos políticos

Pe. Alfredo C. Veiga,
Assessor da Pastoral Fé e Política Diocesana.
Graduado em filosofia, teologia e história, mestre em estética e história da arte pela USP, psicólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em história social pela FFLCH-USP e doutorando em psicologia pela PUC.

 

 

 |  Pe. Alfredo da Veiga  |  Diocese

Para nós católicos, o pecado da omissão sempre foi posto ao lado dos outros pecados graves, digno de ser confessado e reparado, na medida do possível.

Em relação a preferências políticas ou mesmo pelo fato de sermos premidos por injustiças sociais, nos sentimos responsáveis pelo destino da nação, assumindo posições e aderindo a ideologias partidárias, a fim de não pecarmos por omissão. Esse comportamento, no entanto, embora compreensível sob o ponto de vista social, não se sustenta e chega até a ser inaceitável para pessoas que se supõe pastores de um rebanho democraticamente diverso em seus posicionamentos políticos e não menos digno de atenção e sobretudo respeito por parte de seus pastores.

O que nos proíbe de tomar partido, em última análise, é a nossa própria origem. O Cristianismo, desde cedo, se caracteriza pelo amor universal, universalidade essa baseada no fato de que, filhos de um mesmo pai, somos todos irmãos. 

Atitudes políticas unilaterais, sejam elas de direita ou de esquerda podem conduzir a experiências desastrosas. Quando se faz uma opção por um lado, a tendência é rechaçar o contrário, e isso faz com que, naturalmente, as ideias acabem sendo impostas, de maneira violenta ou até mesmo sutil, e ambas as formas produzem sempre efeitos negativos na trama dos laços sociais. Nesse sentido, toda forma de apologética, seja ela religiosa ou política, é perigosa, pois cria ressentimentos e separações. Adorno e Horkheimer, em “Dialética do Esclarecimento” dizem que “quando a linguagem se torna apologética, ela já está corrompida”. Nesse mesmo texto, que parece tirado do evangelho, afirmam: “Será que você não pode mostrar o lado bom e proclamar como princípio o amor, ao invés da amargura infinita?”.

A palavra que falamos sempre pode intrigar, propalar, sugerir, segundo os dois pensadores, mas mesmo envolvidas na ação da realidade, também podem ser dirigidas no sentido da mentira e ao serviço da violência e do despotismo. O problema ainda, quando tomamos uma posição político-partidária é que a linguagem utilizada para isso só enxerga o que quer, e faz tudo para que as coisas pertençam ao seu meio. Nesse sentido, a linguagem usada como instrumento para este ou aquele lado, se identifica com a mentira. Adorno chega a dizer que esse tipo de linguagem se identifica mesmo com as trevas!

Nosso maior trunfo, como sacerdotes, é a palavra e, portanto, dela se deve cuidar para que não traga confusão e divisão. Sigmund Freud, em seu livro “A Psicologia das Massas e a Análise do Eu”, de 1921, afirmava que “A multidão se mostra muito acessível ao poder verdadeiramente mágico das palavras, as quais são suscetíveis tanto de provocar na alma coletiva as mais violentas tempestades como de apaziguá-las e fazê-las voltar à calma”.

Precisamos, sim, denunciar as injustiças, marca insofismável da sociedade brasileira, mas, para isso, temos que contar com o evangelho de Cristo, que nunca se equivoca e nem decepciona, como os partidos políticos

Pe. Alfredo C. Veiga,
Assessor da Pastoral Fé e Política Diocesana.
Graduado em filosofia, teologia e história, mestre em estética e história da arte pela USP, psicólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em história social pela FFLCH-USP e doutorando em psicologia pela PUC.